Juliano Domingues

O Brasil sofre da chamada síndrome da desconfiança generalizada. Seu alvo preferencial são as instituições democráticas. Até quando o País suportará o constante risco autoritário de se querer jogar fora a água suja com o bebê dentro?

Democracias já foram classificadas como um “pacto de incertezas previsíveis”, dado o alto grau de insegurança a que estão submetidas. Entretanto, para se reduzir turbulências, não há dúvidas sobre a necessidade de um elemento: confiança política. Nesse aspecto, o histórico da América Latina não é animador, muito menos o do Brasil.

A falta de confiança se traduz em insatisfação com a democracia. Dados da organização Latinobarómetro recentemente divulgados explicitam esse cenário. Ao ser comparado com os demais continentes, a América Latina é aquele com a menor parcela de população satisfeita com a democracia (37%). O Brasil possui um percentual ainda mais baixo (21%), à frente apenas do México (19%). Em primeiro lugar está o Uruguai (70%).

A série 1995-2015 indica que o resultado já foi pior. Em 2001, 25% dos latino-americanos se diziam satisfeitos com a democracia. Era a época da chamada crise asiática. Por outro lado, esse número passou a apresentar tendência de aumento a partir de 2002 até atingir 44% de satisfação em 2009 e 2010, período de fartura na economia. Em seguida, passou a cair, não por acaso em meio às crises do subprime e da Europa.

Os números indicam, portanto, que a satisfação com a democracia tende a variar associada a desempenho econômico. Pode-se observar isso em relação aos dados sobre crescimento do PIB. Quanto maior a renda per capita, maior o percentual daqueles que se declaram satisfeitos com o regime. Outro aspecto: se o desempenho econômico agrada à população, ela tende a aprovar o governo.

Embora o capitalismo seja compatível com o autoritarismo, ele está fortemente associado ao surgimento e à manutenção de instituições democráticas. Esses resultados reforçam a pertinência de hipótese já prevista e testada pela literatura em Ciência Política: quanto maior a renda per capita, maior a expectativa de vida de uma democracia.

A sedução autoritária estará sempre à espreita, torcendo pelo agravamento da síndrome da desconfiança. A solução para afastá-la passa por melhores dias na economia, tanto interna quanto externamente. Assim, preserva-se o bebê.

 

Juliano Domingues é doutor em Ciência Política e professor da Unicap.

Texto publicado no Jornal do Commercio no dia 05 de junho de 2016.