Líderes têm a capacidade de influenciar seus liderados a agir da forma que lhe convier. Essa é uma condição necessária à conquista e manutenção da própria liderança. Evidências recentes reforçam aquilo que há muito as teorias da comunicação já apontavam: o discurso de um líder tem o potencial de influenciar de maneira significativa o comportamento de seus liderados. Mas até onde vai essa influência?
Seria possível afirmar, por exemplo, que a crítica de um governante ao isolamento social incentiva pessoas a não aderir ao distanciamento e a sair às ruas em tempos de coronavírus? A busca por uma resposta a essa pergunta motivou o estudo More than words: leaders’ speech and risky behavior during a pandemic (“Mais do que palavras: discurso de líderes e comportamento de risco durante a pandemia”). Com dados eleitorais e de geolocalização de 60 milhões de brasileiros, os pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) Nicolás Ajzenman, Tiago Cavalcanti e Daniel Da Mata identificaram que as falas do presidente Jair Bolsonaro contra o isolamento apresentaram maior impacto nas regiões predominantemente pró-governo comparativamente aos locais em que obteve menos votos. Em outras palavras, os liderados acompanharam seu líder.
Pesquisa dos professores Griffin Edwards (University of Alabama) e Stephen Rushin (Loyola University Chicago) segue caminho semelhante no estudo The effect of President Trump’s election on hate crimes (“O efeito da eleição do presidente Trump nos crimes de ódio”). A análise nesse caso, porém, voltou-se à relação entre falas do presidente Donald Trump e padrões no registro de crimes de ódio em níveis nacional e local entre 1992 e 2017. Os pesquisadores usaram técnicas estatísticas e identificaram uma associação significante entre a eleição de Trump e crimes dessa natureza, especialmente nos estados em que o republicano recebeu maior número de votos.
Estudos desse tipo não são novidade. Eles surgiram e se desenvolveram no polarizado período entre guerras, em uma época de evolução dos meios de comunicação de massa. De lá para cá, os modelos explicativos foram refinados, tornaram-se mais sofisticados e a lógica estímulo-resposta desaguou, então, nos algoritmos. A história, por sua vez, encarregou-se de mantê-los atuais.
Juliano Domingues é doutor em Ciência Política e professor da Universidade Católica de Pernambuco.
Texto publicado no Jornal do Commercio no dia 26 de abril de 2020.
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