Juliano Domingues da Silva
Mudanças institucionais costumam estar associadas a turbulências. A elevada incerteza quanto ao futuro reforça o movimento de atores em busca da maximização de interesses. Trocando em miúdos, mais intensamente, eles buscam tirar alguma ou, se possível, muita vantagem da situação. Prato cheio para o oportunismo.
Não se deve, porém, generalizar. Nem todos os atores em uma arena de disputa por recursos políticos podem ser classificados como oportunistas. Como, então, identificá-los? James Mahoney, da Northwestern University, e Kathleen Thelen, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), oferecem uma boa resposta. Ela nasce a partir de estudos sobre mudanças institucionais graduais, ou seja, aquelas ocorridas não de forma abrupta, por meio de revoluções, mas como fruto de um processo lento.
Em contexto de possível transformação, o observador deve analisar os “agentes da mudança”, seus interesses e movimentos. Essa observação fornece evidências por meio das quais é possível identificar o oportunista, cuja ação, por exemplo, tende a ser marcada pela ambiguidade. Isso se deve ao elevado grau de incerteza quanto ao resultado do cálculo custo-benefício que antecede seu movimento ou paralisia. Em outras palavras, o oportunista costuma hesitar, com o objetivo de reduzir o risco de, no fim das contas, dar com os burros n’água.
O não agir também deve ser analisado como fruto de um cálculo quanto aos benefícios. A melhor alternativa diante de uma determinada situação pode ser, justamente, não fazer nada. Nesses casos, a inércia é interpretada como apoio às instituições vigentes quando, provavelmente, é resultado de uma ação estratégica. Entretanto, a partir do momento em que a mudança institucional se torna mais proveitosa em relação às suas preferências, esse tipo de ator tende a se adaptar ao novo contexto. É quando ele perde a cerimônia mais explicitamente e entra em ação.
O oportunista se sente mais ou menos à vontade para atuar a depender, ainda, do ambiente. A teoria prevê o cenário convertion– “conversão”, em tradução livre – como favorável. Nele, as regras permanecem formalmente as mesmas, mas são interpretadas e implementadas de novas maneiras. Os oportunistas convertem as instituições (daí o nome do cenário), redirecionando-as para novos objetivos e funções. Ou seja, diante da incapacidade de destruir uma instituição, eles optam por redirecioná-la sob medida aos seus interesses.
Feitas essas considerações, leitor, mãos à obra: identifiquemos os oportunistas.
Juliano Domingues da Silva é doutor em Ciência Política e professor da Unicap.
Texto publicado no Jornal do Commercio no dia 10 de abril de 2016.
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