Juliano Domingues
Marco Bahe
O emoji – carinhas que expressam sentimentos em redes sociais – é um fenômeno mundial. Seu criador, o japonês Shigetaka Kurita, liberou os direitos de uso para o duopólio Google/Facebook. Ele abriu mão do dinheiro, mas não dos dados gerados por sua invenção. Milhões de usuários de emoji informam ao Google, ao Facebook e a Kurita se estão animados, tristes, cansados ou apreensivos.
O volume, a diversidade e a velocidade com que informações são geradas nas mídias sociais é estrondoso. Em apenas um minuto, o YouTube recebe mais 25 horas de conteúdo, 694 mil consultas são feitas no Google e 510 mil comentários são postados no Facebook. Ao acessar essas mídias, o usuário indica quais ambientes frequenta, o que consome e com quem se relaciona. Isso é o chamado Big Data.
Com base nesse tipo de informação, empresas tomam decisões menos arriscadas e alcançam melhores resultados. Governos tendem a seguir por esse caminho, embora a passos lentos. A Presidência da República, por exemplo, contratou ferramentas de Big Data para avaliar o potencial de manifestações em locais a serem visitados pela presidente Dilma Rousseff. Via redes sociais, foi possível antever volume e intensidade dos protestos garimpando dados publicados pelos próprios manifestantes.
O Estado pode e deve ir além disso. É preciso usar esse recurso para aprimorar a gestão de políticas públicas. Governos podem planejar, por exemplo, ações mais eficazes de combate ao crime. Estima-se que um celular é roubado a cada minuto no Brasil. Apenas metade das vítimas presta queixa. Por outro lado, elas imediatamente postam o ocorrido em suas redes, reclamam da insegurança e avisam que estão temporariamente sem comunicação.
Via ferramentas de Big Data, o poder público pode traçar um mapa de violência mais preciso se comparado àquele elaborado com informações das delegacias. Pode, ainda, colher dados preciosos sobre saúde, trânsito, emprego, desejos, sonhos e insatisfações das pessoas. Os dados estão disponíveis: 168 milhões de brasileiros possuem smartphone. Por eles, a população se manifesta espontaneamente.
As mídias sociais e as tecnologias a elas associadas são muito mais do que entretenimento. Elas oferecem a oportunidade de uma gestão mais eficiente e próxima do cidadão. Em tempos de sociedade digital, adequar-se a esse momento é o grande desafio desse nosso Estado analógico.
Juliano Domingues é cientista político. Marco Bahe é sociólogo.
Publicado no Jornal do Commercio no dia 21 de agosto de 2016.
Comentários