A imagem do copo meio cheio ilustra o que as últimas eleições representaram para o PSB de Pernambuco e seus opositores: o resultado reafirma a hegemonia do partido no Estado, mas sinaliza possibilidades de mudança alinhada com o cenário nacional. Esta interpretação está assentada em duas dimensões: partidária e geracional.
O PSB conquistou 434 governos municipais em 2012 e 403 em 2016, mas viu seu número de prefeituras cair vertiginosamente para 252 em 2020, em um movimento comum a outros partidos considerados de esquerda ou centro-esquerda, como PT, PDT, Psol e PCdoB. O grupo que havia estado em ascensão nos anos 2000, levou 46 municípios com mais de 200 mil eleitores em 2012; 28 em 2016; e, agora, 16.
Ao mesmo tempo, a direita ou centro-direita ganhou espaço, com destaque para o DEM, que passou de 266 prefeituras em 2016 para 464 agora; o PP, de 495 para 685; e o PSD, que cresceu de 537 para 654. Essa lista dos partidos com mais prefeituras é encabeçada pelo MDB que, apesar da perda em comparação ao pleito anterior, quando venceu em 1035 cidades, conquistou 784 prefeituras. O PSDB também perdeu terreno, caiu de 785 para 520, mas se mantém entre os cinco maiores nessa relação.
A vitória do PSB no Recife ocorreu, portanto, a despeito do encolhimento nacional e em função, sobretudo, da força histórica do partido em Pernambuco. Paradoxalmente, a maior ameaça ao seu projeto reside na longevidade da sua hegemonia, pois ela produz incentivos a dissidências e ao fortalecimento de opositores competitivos que se apresentam ao eleitor como alternativa à chamada “fadiga de material”.
Sob essa perspectiva geracional, não apenas Marília (PT) pode ser identificada como figura de destaque, mas também, com pesos distintos, Túlio Gadelha (PDT), Dani Portela (PSOL) e Ivan Moraes Filho (PSOL). Do outro lado do espectro, mas também contra o PSB, estão Priscila Krause (DEM), Anderson Ferreira (PL), Raquel Lyra (PSDB) e Miguel Coelho (MDB), cuja eventual composição desfrutaria de vantagem na disputa pelo protagonismo em função do cenário nacional favorável e da geografia do seu capital político no Estado.
O sucesso do PSB em Pernambuco faz dele o adversário a ser batido em 2022, com capacidade de unir atores políticos de diferentes campos em torno desse propósito. E não é que mal acabou uma campanha eleitoral outra já tenha começado. A verdade é que ela nunca termina.
Juliano Domingues, cientista político, é professor da Unicap.
Texto publicado no Jornal do Commercio no dia 06 de dezembro de 2020.
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