Juliano Domingues

Jorge Zaverucha

José Maria Nóbrega Jr.

O Brasil vive intensamente duas situações: crise política e econômica e aprofundamento da operação Lava Jato. Haveria entre elas uma relação de causa e efeito?

Em síntese, a ideia de causalidade prevê que uma situação X, observada em um tempo t1, provoca um fenômeno Y, em um tempo t2. A realidade, porém, costuma ser bem mais complexa do que esse modelo, fruto da combinação de várias variáveis. Deixando a complexidade de lado, vamos às especulações.

A crise econômica parece associada a dois fatores principais: o fim do chamado super ciclo das commodities e decisões de controle fiscal por parte do governo Dilma. Dados do PIB já indicavam fraco crescimento em 2011 (2,7%), 2012 (1%) e 2013 (2,3%). Desaceleração do emprego e do rendimento, bem como inflação alta e restrições ao crédito recheavam boa parte das previsões para 2014.

Diante desse quadro, as medidas governamentais adotadas pelo governo se mostraram inadequadas. Os índices já apontavam um cenário pessimista antes mesmo da primeira fase ostensiva da Lava Jato, deflagrada em 17 de março de 2014. Muito provavelmente, a degradação da economia ocorreria independentemente das ações da Justiça Federal.

Quanto à crise política, dois episódios parecem decisivos para sua eclosão e agravamento. Em 2014, Palácio do Planalto e Eduardo Cunha (PMDB-RJ) entraram em conflito na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados. O governo Dilma declarou guerra ao antigo aliado, lançou Arlindo Chinaglia (PT-SP) como candidato, mas perdeu a batalha, o que lhe trouxe dificuldades no Congresso.

Um ano depois, no Conselho de Ética, o PT votou a favor do parecer do deputado Fausto Pinato (PRB-SP) contra Cunha por suposta quebra de decoro. A resposta foi o início do processo de impeachment, ao que se seguiu o esfacelamento da base aliada e o isolamento político de Dilma. A instabilidade política parece muito mais associada à relação Executivo-Legislativo do que a ações da Força Tarefa.

É fato que o aprofundamento das crises coincidiu com a intensificação da Lava Jato. Entretanto, simultaneidade entre eventos não significa, necessariamente, relação de causa e efeito. Haveria, no máximo, uma correlação ou interdependência entre a Lava Jato e as crises, mas não uma relação causal.

 

Juliano Domingues, Jorge Zaverucha e José Maria Nóbrega Júnior são, respectivamente, cientistas políticos e professores da Unicap, UFPE e UFCG.

Texto publicado no Jornal do Commercio no dia 19 de junho de 2016.