A participação política é objeto de desejo de boa parte da teoria democrática, embora continuamente frustrado pela realidade. Os dados indicam, porém, que o clima pré-eleitoral brasileiro tem incentivado o engajamento político da população.
Pesquisa BTGPactual/FSB aponta que 65% dos eleitores estão interessados (28%) ou muito interessados (37%) nas eleições para presidente de outubro próximo, enquanto 20% estão pouco interessados (10%) ou nada interessados (10%). Quanto mais próximo o dia do pleito, maior costuma ser esse interesse. No entanto, além de já elevados, esses números estão estáveis no tempo e chamam atenção se comparados aos de 2014, quando, assim como Bolsonaro, a então presidenta Dilma Rousseff buscava a reeleição.
Em agosto daquele ano, pesquisa CNT/MDA apontou 41% dos eleitores muito interessados (15%) ou com interesse médio (26%), enquanto 58% se diziam pouco interessados (31%) ou sem nenhum interesse (27%). Vivia-se a ressaca dos protestos de 2013 e caminhava-se para uma polarização no 2º turno, cujas consequências ainda se fazem presentes. Apesar disso, as eleições pareciam pouco atrativas ao eleitor.
Ressalvadas as distinções metodológicas e contextuais que separam os dois levantamentos, o aumento significativo dos interessados na disputa presidencial deve ser entendido como uma mudança relevante de cenário. Seus condicionantes estão associados ao processo de midiatização da política em, ao menos, dois aspectos.
O primeiro diz respeito a fluxos comunicacionais. Nesse intervalo de tempo, muito mudou na forma como as pessoas se informam – ou se desinformam – sobre política. Grupos autointeressados desenvolveram e popularizaram estratégias de comunicação em ambientes de mídias digitais ainda mais diversificadas e sofisticadas quanto ao potencial de influenciar a opinião pública.
Ao mesmo tempo, e este é o segundo aspecto, os personagens da disputa atual são midiaticamente mais atrativos em relação aos de 2014. Lula e Bolsonaro encarnam e comunicam polarizações históricas de modo mais eficiente do que Dilma e Aécio, como no embate comunistas vs. fascistas, vermelho vs. verde-amarelo, patrão vs. trabalhador.
O aumento do grau de interesse pela política, embora desejável em democracias, não significa necessariamente que a população esteja mais politizada. De qualquer forma, já é alguma coisa.
Juliano Domingues, jornalista e cientista político, é coordenador da Cátedra Luiz Beltrão de Comunicação (Unicap).
Publicado no Jornal do Commercio em 03/07/2022.
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