Juliano Domingues

 

Hoje promete ser um dia histórico. A candidata do partido Democrata, Hillary Clinton, deve conquistar a maioria dos votos nas eleições dos EUA e se tornar a primeira mulher presidente da maior potência mundial. As previsões de cenários levando-se em conta o colégio eleitoral são bem favoráveis a ela.

 

Em torno de 230 milhões de pessoas estão aptas a votar. Mas como o voto não é obrigatório, não se sabe ao certo quantas vão comparecer às urnas. A certeza é apenas uma: nenhuma delas vai eleger o próximo presidente da República de maneira direta. O voto popular aqui serve como uma espécie de consulta pública. A decisão final cabe a um colégio eleitoral formado por 538 membros.

 

A fórmula foi elaborada pelos fundadores dos EUA para operar como uma espécie de filtro aplicado à democracia pura. De um lado, insere-se a participação popular; do outro, extrai-se o que se espera ser a essência dela. Imagina-se que através desse processo seja possível selecionar um distinto grupo de cidadãos dotados de melhor discernimento quanto àqueles que seriam os verdadeiros interesses do país. Em vez de uma democracia de massas, tem-se uma democracia de nichos.

 

Cada estado possui um número definido de delegados: o equivalente aos assentos na câmara federal mais dois senadores. Quanto mais populoso um estado, maior o número de delegados. Na Califórnia, por exemplo, são 55; na Dakota do Norte, apenas 3. Quando o candidato a presidente vence pelo voto popular em um estado, ele conquista todos os delegados – é a lógica winner-takes-all. Para vencer no colégio eleitoral, é preciso somar 270 delegados.

 

Hillary leva vantagem entre eleitores com maior grau de escolaridade. Estes costumam se concentrar nos estados mais urbanizados e, normalmente, mais populosos. Como nesses locais está concentrado o maior número de delegados… bingo! Essa combinação acaba gerando os condicionantes da provável vitória da candidata democrata. O prestigiado portal Real Clear Politics indica vitória de Hillary por 301 a 237.

 

Os EUA vivem uma disputa entre pontes versus muros; entre inclusão versus exclusão. A vitória de Hillary nas urnas representa muito mais do que uma conquista do partido Democrata. Será a vitória da tolerância e do respeito às mulheres, à diversidade e às minorias. Tem tudo para ser um dia histórico.

 

 

Juliano Domingues é doutor em Ciência Política e acompanha as eleições dos EUA como observador internacional a convite do Departamento de Estado.

Texto publicado no Jornal do Commercio no dia 08 de novembro de 2016.