O Brasil assistiu na última semana à multiplicação de bandeiras verde-amarela nas varandas de prédio e em janelas de automóveis. Um tanto adormecido, o desejo de se manifestar dessa forma encontrou no 7 de Setembro um pretexto para aflorar, em resposta a um estímulo estrategicamente trabalhado pelo governo Bolsonaro e por seus apoiadores.
O contexto é propício a manifestações de rua. Afinal, a inflação atingiu a maior alta em 21 anos, vive-se uma crise hídrica com aumento na conta de luz, o preço dos combustíveis foi reajustado pela 9ª vez e o Brasil atingiu 585 mil mortos por Covid-19. No entanto, a motivação se mostrou outra. Milhares protestaram em defesa da liberdade, contra o comunismo, a favor do voto impresso e pelo fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF). Os atos foram registrados em 83 cidades, dentre elas as 26 capitais e o Distrito Federal.
Essa participação sinaliza aderência à pauta proposta pelo governo, conforme se pode inferir de pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP) com manifestantes do 7 de Setembro na Av. Paulista. Entre os entrevistados, 59% identificam o STF como o principal inimigo; 29% estavam nas ruas pelo impeachment de seus ministros, 28% em defesa da liberdade de expressão e 24% para autorizar o presidente a agir; e 53% se disseram contrários ao uso de máscara. Esses números demonstram a eficiência da estratégia de comunicação adotada.
Toda comunicação é intencional, com o objetivo de persuadir o receptor a um determinado comportamento, mas seu efeito tende a variar a depender de quem recebe a mensagem. A maioria na Av. Paulista era de homens (61%) brancos (60%) com mais de 50 anos (42%), renda acima de cinco salários mínimos (43%) e curso superior completo ou incompleto (60%). Esse seria o principal perfil da parcela do eleitorado que ignora avaliações negativas e mais demonstra fidelidade ao presidente – algo em torno de 20%, estima-se. Não é pouco diante da abstenção de 20,3% registrada em 2018.
A adesão aos protestos do 7 de Setembro pode até ter frustrado os bolsonaristas mais otimistas. Porém, a partir desse dado, considerar que a manifestação “flopou” é subestimar a capacidade demonstrada de disseminar convicções e convencer parte do eleitorado a se mobilizar. Sobretudo em um contexto excepcionalmente adverso, capturar a pauta não é nada trivial.
Juliano Domingues, cientista político, é coordenador da Cátedra Luiz Beltrão de Comunicação da Unicap.
Texto publicado no Jornal do Commercio em 12 de setembro de 2021.
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