Governadores e prefeitos estão vencendo o governo Bolsonaro na batalha pela opinião pública em meio à pandemia da Covid-19. A análise de dados da pesquisa Ipespe divulgada na última quarta-feira (04) permite essa inferência.
A avaliação negativa de Bolsonaro oscilou entre 54% (agosto e outubro) e 55% (setembro), ao passo que a regular variou entre 18% (setembro) e 20% (agosto e outubro); e a positiva, entre 23% (agosto e setembro) e 24% (outubro). Algo semelhante ocorreu, como era de se esperar, em relação aos dados sobre aprovação e desaprovação: 64% desaprovam a maneira como o presidente vem administrando o país, 30% aprovam e 7% não sabem/não responderam.
Ao mesmo tempo, a avaliação negativa da administração dos governadores vem caindo desde abril e passou a oscilar entre 26% (agosto), 27% (outubro) e 28% (setembro). Já a regular ficou entre 39% (agosto e setembro) e 38% (outubro); e a positiva, entre 32% (setembro) e 33% (agosto e outubro). No caso dos prefeitos, o cenário é ainda melhor para eles: apenas 18% classificam a administração municipal como ruim e péssima, 36% como regular e 44% a consideram ótima ou boa.
Na linha do tempo, curvas de aprovação/desaprovação sugerem três movimentos distintos entre si. Em relação ao governo federal, parece ter se estabilizado um cenário bastante desfavorável, iniciado em janeiro, quando as linhas de positivo e negativo se cruzam e a aprovação passa a desabar, ao passo que a desaprovação apresenta uma tendência de crescimento que vai se confirmando a cada levantamento.
No caso dos governadores, o movimento é inverso, embora com menor intensidade: após altos e baixos, vê-se alguma estabilidade da avaliação positiva, porém com uma margem apertada. Já os prefeitos desfrutam da situação mais favorável comparativamente, em que se observa uma significativa regularidade dos percentuais de avaliação desde de fevereiro deste ano, com destaque para a percepção positiva por parte do eleitor.
Esse confronto entre governantes tem girado em torno, principalmente, da adoção ou não de políticas baseadas em evidências, no qual se revela uma disputa secular entre sistemas de crenças e valores. De um lado, governadores e prefeitos, com sua imagem associada ao conhecimento científico; do outro, um presidente identificado com o obscurantismo. Nas próximas eleições, o eleitor terá a oportunidade de decidir se irá punir ou recompensar o negacionismo.
Juliano Domingues é professor da Unicap.
Texto publicado no Jornal do Commércio (PE) no dia 07 de outubro de 2021.
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