O brasileiro é, antes de tudo, um ignorante. É o que aponta o Índice da Percepção
Equivocada elaborado pelo instituto europeu Ipsos Mori divulgada essa semana.
Com base nela, pode-se afirmar: somos presas fáceis em tempos de pós-verdade.
A pesquisa “Perigos da Percepção” procura identificar o que as pessoas pensam
sobre a realidade. Em sua edição 2017, ela apresenta o saldo de 29 mil
entrevistas sobre temas do cotidiano em 38 países. Quanto a violência, por
exemplo, perguntou-se se “você acha que a taxa de homicídios no seu país é
maior, menor ou quase igual à de 2000?”. Há questões, ainda, sobre saúde,
sistema carcerário e tecnologia.
É “achômetro” versus conhecimento. Ao confrontar as respostas com
informações de fontes seguras, identifica-se o quanto os entrevistados foram
mais ou menos precisos. O resultado é previsível. Enquanto os nórdicos estão no
topo da tabela, os sul-americanos estão mal posicionados. Dentre estes, o pior é o
Brasil, segundo colocado no ranking da ignorância, atrás apenas da África do Sul
e à frente das Filipinas. A população que mais conhece seu próprio país é a sueca,
a norueguesa e a dinamarquesa.
Outro resultado relevante: quanto mais conhecedora da realidade do seu país,
mais disposta está a população a colocar em xeque sua percepção. Em outras
palavras, os mais precisos em suas respostas são, também, aqueles que mais
desconfiam delas. Pode-se supor que esse dado revela uma lógica científica na
percepção do mundo ao redor, segundo a qual se deve suspeitar das convicções.
Os mais ignorantes, por outro lado, possuem uma crença medieval nas suas
respostas imprecisas.
Os dados sobre o Brasil preocupam. Eles explicitam de modo objetivo uma
opinião pública extremamente suscetível à manipulação. Sem conhecimento, é
possível acreditar nas mais esdrúxulas versões sobre diferentes assuntos. Esse é
o terreno fértil para a chamada pós-verdade, fenômeno caracterizado pela
difusão em escala de crenças falsas e boatos em detrimento do conhecimento
baseado em evidências.
Não por acaso, a disputa por poder tem sido, sobretudo, a competição pela
versão capaz de capturar a percepção das pessoas. Talvez, a chamada “assimetria
informacional” nunca tenha desempenhado papel tão decisivo em processos de
tomada de decisão. Contra o mal da ignorância, só há uma solução: o saber. O
Brasil precisa conhecer o Brasil.
Juliano Domingues é doutor em Ciência Política com pós-doutorado em
Comunicação.
Jornal do Commercio, Recife, PE, p. 18 – 18, 10 dez. 2017.
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