A quase um ano das eleições, a pergunta mais relevante não é saber “em QUEM o eleitor vai votar?”, mas “o QUE o eleitor quer?”. As respostas a ela condicionam estratégias discursivas e ajudam a antever candidaturas mais ou menos competitivas.
Para desvendar quem é e o que pensa o eleitor é preciso estar atento, por exemplo, a convicções político-ideológicas, pois elas revelam sistemas de crenças e valores aos quais escolhas eleitorais costumam estar associadas. Pesquisa Ipespe do mês passado indica que, somados, os percentuais de quem se considera de direita (29%) e de centro-direita (6%) superam os que se dizem de esquerda (19%) e de centro-esquerda (5%).
O enigma, porém, reside na parcela declaradamente mais volúvel do eleitorado, capaz de flutuar entre um lado e outro do espectro sem maior constrangimento. Nessa mesma pesquisa, eles se concentram entre aqueles que se consideram de centro-centro (9%), somados aos que não confessam sua convicção político-ideológica (32%). A incerteza quanto às escolhas desse segmento tende a ser elevada, o que revela um paradoxo, pois é ele quem acaba por definir o resultado das urnas.
Certo mesmo, por enquanto, é a expectativa do eleitor em relação à pauta do próximo presidente. Inflação e custo de vida (18%), saúde (15%), desemprego (14%) e fome e miséria (11%) são os temas mais relevantes para a população, à frente de corrupção (6%) e violência (3%), no levantamento do Ipesp. Cenário semelhante é indicado pela pesquisa da Genial/Quaest deste mês, no qual a economia (48%), saúde/pandemia (17%) e questões sociais são apontados como os principais problemas do país, à frente de corrupção (9%).
Em um contexto de desemprego, fome e miséria, o eleitor se importa menos com combate à corrupção, violência ou com a chamada pauta de costumes, que não foi sequer mencionada. Esse cenário de preferências é desfavorável, portanto, a candidatos com o perfil do ex-juiz Sérgio Moro ou o do presidente Bolsonaro, ligados a pautas que perderam relevância.
Por outro lado, perfis associados a políticas sociais tendem a encontrar um ambiente favorável à conquista do eleitorado, incluída a parcela mais volúvel, que deverá aderir pragmaticamente a quem apresentar uma agenda econômica capaz de atender às demandas urgentes por trabalho, comida e renda. Talvez por isso o ex-presidente Lula venha liderando com alguma folga pesquisas de intenção de voto.
Juliano Domingues, cientista político, é professor da Unicap.
Texto publicado no Jornal do Commercio do dia 21 de novembro de 2021.
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