Interações e movimentações no ambiente da rede social Twitter podem ser visualizadas como se fossem dados meteorológicos. A partir deles, é possível embasar previsões de mudança de ventos ou até de fenômenos atmosféricos de natureza eleitoral de maior intensidade.

Com auxílio de softwares de análise de dados, extraímos 10 mil twittes feitos nos dois dias imediatamente seguintes à decisão do ministro Fachin em relação à anulação dos processos contra o ex-presidente Lula. Entre a terça (09) e a quarta (10), vale lembrar, foram observadas outras duas variáveis intervenientes: o julgamento da suspeição do ex-juiz Moro e a fala de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Ao observar o conteúdo dos posts e as palavras mais recorrentes, verificamos uma regularidade: a menção a Lula é acompanhada de referências a Bolsonaro, sendo o inverso também identificado. Nas postagens sobre Lula, as palavras mais repetidas foram “Lula”, “Bolsonaro”, “Brasil”, “segundo turno”, “grande”, “presidente” e “elegível”; naquelas sobre Bolsonaro, “Bolsonaro”, “Lula”, “Brasil”, “presidente” e “segundo turno”.

Indivíduos interconectados em redes sociais digitais tendem a compartilhar, por motivos próprios, suas versões e entendimento dos fatos e das narrativas a eles atribuídas por seus protagonistas. Com isso, conferem propagabilidade a esse conteúdo em movimentos de atração e de distanciamento, a exemplo do caso em específico, de tal forma que, quando se fala de um (Lula), fala-se também do outro (Bolsonaro). Esse aspecto pode ser creditado, em parte, à estratégia discursiva adotada pelo próprio petista, guiada por críticas ao atual presidente e ao seu governo.
Tem-se, assim, uma relação de construção identitária por meio de contraste da qual os integrantes de cada rede se sentem parte constituinte ativa do processo. Pode-se interpretar esse dado, ainda, como reflexo de uma prevalência, em termos de percepção da opinião pública, do entendimento segundo a qual os dois, Lula e Bolsonaro, representam polos antagônicos.

Se essa hipótese for verdadeira, tanto no atual cenário político, quanto em uma eventual arena de disputa eleitoral, deve se reforçar o processo de aglutinação gradual dos eleitores nesses polos, motivado por sentimento de rejeição mútua. Quem se posiciona ao centro, será incentivado a aderir a um dos lados.

Juliano Domingues, professor da Unicap, e Davi Barboza, professor da Unibra, são cientistas políticos.