Juliano Domingues

Grupos à direita do espectro político parecem mais à vontade nas redes sociais digitais. Essa hipótese, popular no mundo e aqui no Brasil sobretudo depois das eleições 2018, ganha força com a pesquisa “Redes sociais, notícias falsas e privacidade de dados na internet”, realizada pelo Instituto DataSenado e divulgada no início deste mês.

Os resultados confirmam a importância da política online: 45% dos eleitores dizem já ter levado em consideração informações vistas em redes sociais ao decidir em quem votar. A ferramenta mais influente entre eles é o Facebook (31%), seguida pelo WhatsApp (29%), Youtube (26%), Instagram (19%) e Twitter (10%).

Os dados indicam um perfil dos mais susceptíveis à influência dessas plataformas. Entre os de direita, 55% levam em conta as redes sociais na hora das eleições, um percentual maior quando comparado aos eleitores de centro (43%) e de esquerda (46%). As redes sociais também tendem a influenciar mais o voto de pessoas de 16 a 29 anos (51%), com ensino superior incompleto ou completo (51%) e com renda familiar de mais de cinco salários mínimos (53%).

O eleitor de direita é, ainda, aquele que mais confia no que é publicado nas redes sociais (43%), comparativamente a informações divulgadas na TV e no jornal. Vale destacar que quanto menor é a renda familiar e a escolaridade, maior é a confiança nessas plataformas digitais. Assim, o eleitor que mais acredita nas informações compartilhadas nas redes sociais é de direita, com renda de até dois salários mínimos (36%) e ensino fundamental incompleto (44%).

Apesar das fake news, a confiança nas redes sociais é maior entre os que se dizem de direita (47%) do que entre os de centro (34%) e de esquerda (35%). Também chama atenção a opinião de eleitores de direita quando se trata da visibilidade de notícias falsas: 26% discordam que as notícias falsas tenham mais visibilidade do que notícias verdadeiras nas redes. Entre os de esquerda, são 18% e, entre os de centro, são 19% aqueles que têm essa mesma percepção.

Em síntese, o eleitor mais influenciável por informações nas redes sociais digitais é jovem, de direita, com ensino superior e maior renda familiar. O que mais confia nelas também é de direita, porém com menor escolaridade e renda. Esses dados ajudam não apenas a interpretar o resultado das eleições 2018, mas a prospectar o que deve vir em 2020.

Juliano Domingues é cientista político e professor da Unicap. Instagram: @juliano_domingues

Texto publicado no Jornal do Commercio no dia 22 de dezembro de 2019.