Juliano Domingues

Os embates institucionais em torno das manifestações convocadas para o dia 15 de março expõem uma arena híbrida de disputa por poder típica dos fluxos comunicacionais contemporâneos. Nela, observa-se o conflito entre dois universos distintos, com lógica e dinâmica políticas próprias.

De um lado, estão o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF), duas instituições tradicionais, com estrutura organizacional definida e verticalmente hierarquizada. Suas interações com o meio externo são controladas de modo a evitar processos que desencadeiem algum grau de contestação. Além disso, seus líderes são instituídos por meio de procedimentos previstos legalmente e os processos de tomada de decisão obedecem a normas regimentais, embora azeitadas pela informalidade.

Do outro lado, estão grupos de pressão nascidos, crescidos e reproduzidos no ambiente das redes sociais digitais. A conexão horizontal dos seus integrantes estrutura processos de negociação e barganha dos quais se originam relações de poder fragmentadas e em permanente mutação. Essa fluidez desmancha no ar modelos tradicionais de liderança e a profusão de conexões, bem como sua instabilidade, tornam praticamente impossível algum grau de previsibilidade.

Um lado representa o poder do Estado, a ordem e a busca – ao menos no discurso formal – por estabilidade e unidade como resultado do controle de processos de construção e disseminação de significado. Pronunciamentos em defesa da democracia, como os de Rodrigo Maia e Celso de Mello, são exemplos disso, embora venham de representantes de instituições alvo de profunda desconfiança popular.

Do outro lado, está o contrapoder que, por essência, incita a desordem por meio da deslegitimação dos poderes formais instituídos, com o objetivo de estabelecer sua própria ordem. Enquanto Congresso e STF desfrutam de poder político e coercitivo, o principal recurso dessas redes é o poder simbólico das mensagens via smartphones, fruto da linha de produção de sentido em redes de comunicação multimídia em larguíssima escala.

Os protestos do próximo dia 15 revelam, entre outros aspectos, o embate desses dois modelos de estruturação de relações de poder. Com o descrédito das instituições democráticas tradicionais, as redes digitais levam vantagem nessa disputa cujo objetivo último é a conquista da opinião pública. A adesão às manifestações de rua dará a medida.

Juliano Domingues é professor da Universidade Católica de Pernambuco.