O embate entre instituições e indivíduos que as constituem é a essência da disputa por poder político. No plano nacional, esse conflito tem se intensificado entre, de um lado, o presidente Jair Bolsonaro e sua militância mais fiel; e, de outro, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). Quem ganha e quem perde com isso?

Os números indicam que o governo Federal tem levado a pior, ao menos em relação à disputa pela opinião pública. Pesquisa Datafolha divulgada semana passada aponta uma melhoria da imagem do Congresso e do STF nos últimos seis meses. A reprovação dessas instituições caiu, respectivamente, de 45% para 32% e de 39% para 26%, ao passo que a avaliação negativa do governo aumentou de 36% para 43%.

Pesquisa XP/Ipespe realizada também aponta reprovação alta na avaliação do governo Federal, com percentual aparentemente estabilizado entre 49% e 50% de ruim e péssimo. Esse cenário adverso cria incentivos à adesão de eleitores a movimentos de oposição ao governo, como os manifestos em defesa da democracia e a campanha “Somos 70%”.

Os dados indicam que os antes descontentes com o Congresso passaram a avaliá-lo como regular, uma vez que esse percentual oscilou, para mais, quase na mesma proporção da queda da reprovação, ao passar de 38% para 47%. Pode-se hipotetizar que, diante de uma rejeição crescente ao governo Bolsonaro, parcela razoável da população estaria mais tolerante e simpática em relação ao Congresso, pelo simples fato do Legislativo ser um dos alvos do presidente.

A mesma lógica interpretativa pode ser aplicada ao caso do STF, embora se verifique uma mudança de percepção mais significativa. A queda do percentual de reprovação coincidiu com o aumento da aprovação de 19% para 30%, enquanto a avaliação regular se manteve constante. É uma espécie de virada de jogo, cujos condicionantes podem ser creditados ao conflito entre STF e Bolsonaro, capaz de motivar uma mudança de percepção entre eleitores mais volúveis e, novamente, reforçar movimentos críticos ao governo Federal.

A opinião pública é variável incontornável para a compreensão do jogo que está sendo jogado, pois dela costumam depender as estratégias dos atores políticos na arena de disputa. Dentro da institucionalidade, como o jogo deve ser jogado, Judiciário e Legislativo tendem a levar a melhor. Ao menos por enquanto.

Juliano Domingues é cientista político e professor da Universidade Católica de Pernambuco.

Texto publicado no Jornal do Commercio no dia 07 de junho de 2020.