Os brasileiros e brasileiras estão com medo. Ele vai da iminência de perder o emprego e se endividar, ao risco de se contaminar e morrer por Covid 19. Esse sentimento tende a influenciar a percepção do eleitorado sobre a política e a economia, com potencial de rebatimento nas urnas.
Dados de pesquisa XP/Ipespe apontam que 55% da população está com muito medo do coronavírus, um percentual recorde na série histórica, iniciada em fevereiro do ano passado. Pessoas que antes diziam não temer a doença mudaram de opinião, pode-se supor, diante das circunstâncias: (1) a lista de mortos só aumentou e passou a incluir parentes e amigos em maior número; (2) a euforia otimista com a notícia da vacina se frustrou com a desastrosa gestão do processo de imunização.
Vale lembrar que a função primordial do Estado é preservar vidas por meio da regulação das relações sociais, aplacar o medo que temos de morrer e nos proporcionar segurança, como nos ensina a filosofia e a teoria políticas. Bons governos seriam não somente eficientes nesse sentido, mas também capazes de oportunizar bem estar aos seus governados. Acredite: a população demanda isso e percebe quando não se vê atendida.
O aumento significativo do medo do vírus coincide com o incremento do medo de perder o emprego nos próximos seis meses, o que não deve ser interpretado como força do acaso. Em janeiro, esse receio preocupava 35% dos brasileiros e brasileiras; em março, passou a atingir 45% da população – período em que o medo do endividamento passou de 27% para 36%. Vale mencionar, ainda, o crescimento do percentual de pessoas que não acreditam que serão beneficiadas pela nova rodada de auxílio emergencial: de 70%, no início de março, passou a 76% no final do mês.
Além de medo há pessimismo. Ambos andam de mãos dadas com a avaliação do governo federal, o que também não deve ser interpretado como mera coincidência. Desde junho do ano passado, nunca foi tão elevado o percentual dos que desaprovam a maneira de Bolsonaro administrar o País (60%) e dos que acham que a economia está no caminho errado (65%).
O atual governo transmite, enfim, medo e pessimismo, com reduzida perspectiva de reversão desse quadro até as eleições 2022. O contraponto a esses sentimentos “dança na corda bamba de sombrinha”, para não fugir à regra da nossa frágil democracia. É a esperança equilibrista.
Juliano Domingues, doutor em Ciência Política, é professor da Universidade Católica de Pernambuco.
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